Uma pessoa tem sempre uma tendencia a fazer amigos com as pessoas com quem se identifica, com quem tem coisas ou vivencias comuns.
A cena de se viver um país que não o de origem, um pais "estranho", é que as pessoas que aqui se encontram com mais pontos em comuns não são os nativos (esses estão na sua zona de conforto, no seu país, a falar a sua lingua, com os seus hábitos e tradições de sempre, rodeados dos seus amigos de infancia, a planear o resto das suas vidas no mesmo sitio). É com os estrangeiros que há mais pontos em comum, aqueles que se meteram um dia numa aventura e decidiram viver longe da familia e amigos e conforto do lar e mudaram-se para um país onde não conhecem muita gente, provavelmente não falam bem a lingua e acham estranhos muitos dos costumes da terra onde agora vivem.
Isto tem a óbvia vantagem de se conhecerem pessoas de diversos países e dos mais variados backgrounds, de se misturar com pessoas diferentes que partilham contigo experiencias e pontos de vista diferentes. Tem também a não tão óbvia desvantagem de em raras ocasiões se conhecer realmente alguém: conhece-se muita gente, começam-se as conversas sempre da mesma maneira e troca-se o mesmo tipo de informação: quando vieste, porquê, até quando, onde, como? Mas essa coisa da amizade não é algo que se consiga com 2 conversas banais enquanto se bebe um café. O café é um começo, mas só isso. E posso dizer que pela minha experiencia aqui as conversas que depois continuaram e evoluiram foram num número muito inferior às que foram iniciadas. Mas existem, e com esforço/tempo/paciencia é possivel fazer bons amigos.
Outra cena de se viver num país "estranho", é que a maior parte das pessoas que chega perto está de passagem. Essa passagem pode ser de alguns meses a vários anos mas conheci poucos expats que admitem querer ficar aqui para sempre (o que quer que sempre seja!). Depois de uns anos "habituei-me" a (ou aprendi a reconhecer) um certo flow de pessoal: há sempre pessoas a chegar e a partir.
Mas a pior cena neste momento é que antes do final do ano vão-se mais duas amigas embora. Duas pessoas com as quais as conversas foram além dos primeiro café e com quem se partilharam saídas, jantares, cerveja, viagens, frustaçoes, desalentos e não só. Mais duas das poucas pessoas que estavam no circulo interior...
Hoje tive de dizer adeus a uma amiga querida. Alguém com quem convivi diariamente durante muito tempo, que ajudava os meus dias, me fazia rir e realçava o melhor de mim, que me mostrou que "it's not all business"e que alguns colegas também podem ser amigos. E enquanto dizia adeus na estação de comboio tentava mentalisar-me que ainda a irei ver muitas mais vezes, ainda há muitos planos para serem feitos... mas segunda-feira, segunda-feira vai ser um dia muito mais dificil...